Estado civil: cansada
- Manu Ferracciu
- 3 de jul. de 2023
- 2 min de leitura
Eu tenho duas filhas, uma de cada pai. Há um significado ser essa mulher né? Acho engraçado porque, na minha família, a última geração a ter filhos de um único homem foi a da minha bisavó. A gente naturalizou que relacionamentos ruins devem acabar independente de filhos. Sensatas!
Mas como eu ia dizendo, são dois pais diferentes. Bem diferentes. Com idades distintas e presenças quase opostas. O mais novo é o designer de quem eu às vezes falo aqui. Ele me faz acreditar que a paternidade pode ser quase tão transformadora e intensa quanto a maternidade. Isso porque tudo que eu sei sobre paternar aprendi com ele. Sorte a minha!
E aí tem o pai da minha mais velha. Ele tem a minha idade e eu escuto que ele é muito jovem e ainda não se encontrou. Penso que a gente que é mãe tem que se encontrar, ou materna desencontrada mesmo. Acho que eu sou uma mãe desencontrada, aliás. Uma boa mãe, mas desencontrada.
Só que esses dois pais me lembram que a gente que é mãe se culpa pela qualidade do pai. Triste como uma transa gera - pelo menos - três funções mas só uma culpada. Eu tento lembrar que a gente só escolhe transar, e que tem gente que escolhe todo dia ser ruim no que (não) faz, talvez a vida toda. O problema é que, às vezes, eu esqueço de lembrar.
Só às vezes porque eu tive mãe que sentia culpa também. Eu tinha pouca afinidade com meu pai e minha mãe foi uma mulher cansada. Por causa dele, eu sei que a culpa não é nossa. Nem da qualidade deles, nem do cansaço nosso.
A propósito, eu sou uma mãe menos cansada depois do fotógrafo. Antes dele eu já sabia que cansaço de mãe é função de pai; ele só me deu certeza mesmo. Mas ele também não sabia direito isso de ser pai antes de ser. A mãe dele também era cansada e ele não viu outros paternando. Acho que foi o cansaço dela que fez de mim uma mãe menos cansada. Se eu tiver um menino um dia, espero ensinar sobre cansaço pra ele também. Mesmo porque minhas meninas já sabem...

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